Percorrendo de bicicleta a North Coast 500

Não queríamos começar com muita força, pelo que planeámos percorrer a menor distância e ascensão apenas para aquecimento.. O nosso hostel para a primeira noite não permitiu realizar check-in até às 17 horas. Na prática, foi mais difícil do que eu pensava: três amigos, a andar de bicicleta, cheios de entusiasmo e pernas frescas!

A geografia pouco povoada da Escócia significava que as nossas distâncias diárias na bicicleta eram em grande parte ditadas por onde poderíamos ficar naquela noite. Embora isso pudesse ser inconveniente para alguns, na realidade ajudou a planear os nossos dias sabendo que tínhamos de parar em certos pontos.

Tendo chegado ao hostel, desmontámos as nossas bicicletas, soltámos as nossas bolsas de bicicleta e corremos para dentro para fugir à chuva que ameaçava no horizonte. Sentámo-nos para jantar, reconstituímos o dia até ao momento, mas partilhámos igualmente o nosso entusiasmo pelos dias que tínhamos pela frente.

O segundo dia na North Coast 500 trouxe consigo alguma agitação: a famosa subida de Bealach na Ba na península de Applecross. É o terceiro passo mais alto da Escócia, e como começa 2000 pés (600 metros) acima do nível do mar, tem a maior ascensão entre todas as estradas do Reino Unido. É uma subida monstruosa e quem já a fez irá dizer-te o mesmo. À medida que subíamos até Bealach na Ba, as vistas arrebatadoras e as montanhas eram de cortar a respiração (não foram apenas os desníveis cruéis, garanto!).

Infelizmente para nós, o resto do dia trouxe consigo um vento de frente, mas as estradas que nos levaram ao nosso próximo porto de escala, Gairloch, emudeceram a ventania. Assim que lá chegámos, fizemos uma reserva num hotel na praia. O restaurante no local significou que não precisámos de nos deslocar o resto do dia!

Um alarme de manhã cedo foi suavizado pelo céu azul e vista para o oceano. Rapidamente reunimos os nossos pertences e preparámo-nos para sair sob os raios frios mas radiosos do sol. A distância e a elevação eram semelhantes às do segundo dia, mas tínhamos uma gigantesca subida pela frente. Após apenas 10 km a pedalar, entrámos em Poolewe, onde o Bridge Cafe forneceu um menu de fazer crescer água na boca e ao qual simplesmente não conseguimos resistir.

Depois de enchermos o estomago, saciámos a fome dos nossos olhos com as belas vistas sobre as muitas estradas sinuosas que se estendiam à nossa frente. Havia uma costa cintilante, montanhas cobertas de neve e serpenteares de asfalto até onde a nossa vista conseguia alcançar. Quando pensávamos que a Escócia não podia ser melhor, a difícil escalada do dia foi recompensada com vistas ainda mais panorâmicas.

O que sobe tem de descer, e as descidas foram um verdadeiro deleite. Rumámos até Ullapool, onde reabastecemos com comida de qualidade e esperámos que passasse uma breve tempestade de granizo. Não podes deixar passar esta cidade portuária se decidires percorrer a North Coast 500!

O nosso alojamento para esta noite foi reservado em Lochinver, a cerca de 50 km do local onde estávamos. A estrada que fazia a ligação foi uma vez mais uma paisagem para recordar e demorou muito mais do que era preciso por causa de todas as paragens que fizemos para tirar fotografias!

O quarto dia da nossa aventura foi arrasador: 215 km com 3500 m de escalada. Sabíamos que tínhamos de maximizar o dia, pelo que deixámos a conversa e começámos a pedalar. A par do som das batidas dos nossos corações, o dia foi intervalado com granizo e neve em quase todas as subidas!

A cerca de metade do caminho, e bastante encharcados, avançámos para a Cocoa Mountain em Durness para aquecermos. Parar quando estás molhado e com frio nem sempre é uma boa ideia, mas nesse dia foi necessário. Para dar-te uma ideia do quanto encharcados estávamos, eu usei dois pequenos sacos plásticos numa tentativa um tanto ou quanto em vão de manter os pés quentes!

Como habitual, as vistas valeram a pena e chegámos em segurança aos nossos alojamentos em Thurso, prontos para duches quentes e uma cama confortável durante a noite.

Comparado com o quarto dia, esta estrada foi um passeio no parque. O nosso primeiro porto de escala foi John O’Groats, a lendária linha de chegada do percurso de Lands End com o mesmo nome. Claro que não resistimos a parar para uma fotografia de grupo na famosa placa antes de relaxarmos durante um longo almoço num restaurante próximo.

Num piscar de olhos, o vento frontal que tínhamos enfrentado para chegar até lá transformou-se num bem-vindo vento de cauda enquanto apontávamos as bicicletas para sul. O dia não podia ser demasiado fácil, pelo que a mãe natureza fez questão de oferecer mais um pouco de neve e granizo para nos manter atentos!

Apenas 120 km nos separavam do nosso destino em Inverness para completar a volta à North Coast 500. Com o tempo do nosso lado, fizemos uma visita rápida ao Dunrobin Castle para algumas sanduíches e uma rápida vista em redor do castelo e jardins. Se desejas um lugar para passear no percurso, não deixes de visitar o Dunrobin Castle, pois vale bem a pena.

O troço final de 50 km envolveu serpentear as ruas suburbanas de Inverness no nosso caminho de volta até onde tudo começou. Havia sentimentos mistos de realização e conforto entre nós quando a nossa jornada chegou ao fim.

Muitos de nós não nos conhecíamos antes da viagem e aqueles que eram amigos não se viam há já algum tempo devido aos confinamentos e a um longo inverno. Uma viagem como esta permitiu-nos partilhar a estrada, ultrapassar os nossos limites, ultrapassar obstáculos e sermos vulneráveis juntos. Conhecidos tornaram-se amigos e as amizades existentes tornaram-se laços para toda a vida.

Ao nos separarmos e ao rirmos dos muitos momentos “tinhas-que-estar-lá”, não pudemos deixar de pensar quando teremos a possibilidade de fazer tudo outra vez.